quinta-feira, 2 de maio de 2013

Sob o olhar de Yan Gabriel Venturin


19:01: Terça eu havia saído triste e desmotivado do Solar do Jambeiro... O que já vinha percebendo há algumas semanas era, agora, um fato: minhas faltas (por causa da viagem e, depois, do pé) haviam sido mais danosas do que eu havia previsto para o meu desenvolvimento em conjunto com o Grupo. E, acreditava eu, haviam sido fatais. Estava completamente perdido, não entendia nada do que a Martha e meus colegas falavam sobre a peça e estava prestes a desistir...

Hoje sai do bandejão com isso em mente e, no caminho para o Solar de Pirandello, decidi que me dedicaria ao máximo para tentar entender o que a Martha estava propondo e, mais do que entender (o que as vezes conseguia por momentos), sentir... como os outros pareciam e demonstravam sentir... mas para mim era estranho e “pós-moderno demais”. A vertigem ainda era muito forte e nem sempre percebida, o que reforçava meus preconceitos comigo mesmo, e me dava poucas esperanças.

Cheguei 20 minutos atrasado e quando cheguei o exercício já havia começado... Olhei para o grupo e vi uma linda cena de amor entre o Pai e a Enteada, ali encarnados pelas vibrações de Amanda e Augusto. Me embasbaquei... Tinha, ainda, um aglomerado para mim indefinido de pessoas, porém muito reluzente e sedutor... Logo que percebi a beleza e a vivacidade da cena me lembrei dos outros ensaios e imaginei logo que mais uma vez tudo se repetiria: a beleza, a profundidade, a empolgação, a explosão de sentimentos que eu não sabia conduzir, conviver, entender e, principalmente, sentir.

Improviso em cima das Seis Personagens da peça 
"Seis Personagens à Procura de um Autor", Luigi Pirandello.

Apesar do meu típico pessimismo comecei a tentar manter minha concentração já nas palavras da Martha e, ao mesmo tempo, sempre observando aquele filho mais velho, que quase nada falava, menos ainda se movia, mas transparecia raiva e ciúme, amor e ódio, nojo e inveja... e mais centenas de sentimentos sombrios e sedutores que explodia em seu peito. Me concentrei nele quando vesti o casaco e me sentei na cadeira de fronte para aquele papel de parede rosa e antigo, abaixo do histórico lustre... Vi o abismo na cadeira, mesmo que sentado, o percebi... o conheci... e o entendi... Percebi o filho dentro de mim e conversei com ele, e, então, me joguei.

Havia me achado no meio daqueles muitos seis, doze, dezoito, mil personagens... Me encontrava no meio deles... no meio daqueles muitos corpos de Pais, Mães, Enteadas e outros Filhos... e observava a tudo com os olhos do filho, do meu Filho... e então entendi e conheci de verdade o projeto Pirandello Contemporaneo, ou seu método, sei lá... Naquele momento, interagindo com o Jessé Pai e o Jessé Enteada, sendo Pai e Filho, fui Pirandello.


Yan Gabriel Venturin
(transcrito de seu diário pessoal)

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